quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Céu

Hoje eu olhei pro céu.
Vi tudo que a eternidade perpetua,
vi tudo que desafia o destino,
vi pouco, vi o céu, e já foi bom.

Hoje vi o céu, e nem é dia especial,
exceto pela morte do poeta que já vem,
pela sorvete de ontem a tarde
e pelo sol que tem surpreendido.
Hoje vi o céu e percebi
que tem tempo que ninguém olha pra ele.

Há de se olhar para uma pessoa, vendo mais do que um humano.
Há de se olhar para uns versos, vendo mais do que se fez impresso.
Há de se olhar para vida, simples, bonita e elegante;
Bem mais do que efemeridades que atravesso.
Há de se olhar para o céu, não perguntando pelo tempo, se chove ou se faz frio,
Há de se olhar para o céu como quem olha para dentro de sí.
Sem medo de ver o vazio, o vazio também é bonito,
Sem medo de sentir o azul, a tranquilidade que há,
Sem medo de ser simples, de ser gente do sítio que sente a tardezinha bater na janela.
Há de se olhar para o céu, acima de tudo, e pelo céu, quando assim for necessário.
Mas há ainda de se olhar para o céu, principalmente, porque é bonito,
e a beleza convém aos olhos, dos condenados e dos que condenam.
Há de se olhar, e assim, fazer a vida valer a pena.


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Já faz tempo. Vinte anos. Mas se teus versos possuem-te, indiretamente, ainda vives.
E se fizer tempo que ninguém olhou para o céu, ou para uma de tuas poesias, não gaste tuas unhas para arranhar a caixa de madeira, talvez seja um tempo que nem valha a pena.
Mas acredite, ainda vives.

(Drummond morreu no dia 17 de agosto, a vinte anos atrás.)

2 comentários:

lucas lyra disse...

pq dá vontade de ser poeta qnd leio seu blog. e qnd leio Drummond... ?
acho q é pq sao meia-noite. se fosse hora do almoço e estivesse com fome... não daria vontade de ser poeta.

lucas lyra disse...

vamos conjugar o verbo sempreamar, o verbo pluriamar! além da Terra, além do Céu, além! vamos conjugar!

"Fala com o Sol e ele não brilha; ele veda e esconde a luz das estrelas. Só ele estende os céus e anda sobre as ondas do mar." jó 9:7-8