domingo, 30 de março de 2008

primeiro frio do ano
fui feliz
se não me engano

Leminski
Vicio

O cigarro me traga
A separação
E a dor que inalo
Dispersa a fumaça.

Leminski
Perguntei e convivi
E você
Nem se quer existiu.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Malas

Eu vou até a lua

Bala na agulha
e
versos
fast-food

Cigarro na boca

Mala
e
cuia

Quero ver
minha mãe

Eu vou
até a puta
Chorar
alagados

Chegar
à boca
Da favela
mais alta

Vou
a livraria
Comprar versos
e estricnina

É culpa sua
e
de quem
quer que seja

Eu vou até a lua

mas
ainda
é de
dia.

domingo, 23 de março de 2008

Transgressão dos meus 19

Transgressão dos meus 19;
No caminho de pó da lua
O septo baixo, o trago ao chão
Calcanhares alados e carrancudos
Tenho duas mãos e um canudo.

Brevidade encantada
E as tais escolhas
O corpo exige
Os sentidos saqueiam
São acordes órfãos
Meus escravos se rebelaram
E os cavalos estão mortos

Auto-canibalizo o que resta de meu pai
Canabis e absintos para o pó do pó;
Quero estar morto pelo nascer do dia,
Preservada a integridade do sexo,
Se necessário dois cigarros.
De Eclesiastes e Juízes e

Trouxe meu currículo
E a carne criada na impureza da Família
Mas isso não importa.



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"Crismei no sexo das prostituas viciadas."

sábado, 8 de março de 2008

Sexta branca e malte.

A caneta sem carga é para ingerir melhor o mundo branco e malhado. É tudo assim, desde tempos que vá lá se saber. Pisando no compasso daquela música que já lhe fritava o âmago; A martelada que sente no peito vinha da pisada trançada e desconfiada, como que se estivesse mesmo bem maior.
É tudo bem mais rápido, as tantas imagens vão se fazendo e desfazendo e entrando em contato com o corpo inteiro, enquanto a música cresce e passa que tudo é passado, o presente é velocidade disparada que nem futuro alcança.
Lindo sorriso, cabelos tapam o rosto, a bebida tem cheiro assim. Na porta da bodega se deixa o que antes era, pra que naquela merda toda ninguém seja ninguém. Aqui, negão, é pra botar demônio pra fora no pulo, correndo que nem jagunço que comeu mulher errada. Aqui é pra não ver mesmo, que os olhos têm mania de grandeza, e querem sempre serem único sentimento. É pra isso esse pisca-pisca, sente como agora cada pedaço de sua pele ta querendo contato, como a música violenta o peito. Dão-lhe a graça de não mais ver em filme a realidade, mas em rápidas fotos tiradas. Bebe e roda essa cabeça, bebe pra deixar de ser assim sempre tão você mesmo.
Carreiras e carreiras vão pro saco em noites assim. É que tem que ter alguma coisa pra lhe por na linha, para poder seguir, com o nariz mesmo.
A mulher se aproxima com sorriso maldoso. Não é de companhia que quero. Bonita, linda, mas que vá a merda. A coisa toda é que to num carro a dois mil quilometros por hora dentro de mim mesmo. To alcoolizado, completamente, estou drogado e com milhares de sentimentos suando pela pele, dirigindo por todas aquelas trancas cheias de buracos e bueiros e gente que quer é atrapalhar. Quero é poste, quero que se exploda que não há verbo mais pra mim, visto que não sou primeira, quem dirá pessoa. A caneta, de novo, que esse mundo empelota fácil, e depois num entra.
A terra puxa menos, o peso voa, as memórias se afogam. Milhares e milhares de flores nascem, vermelho-sangue como o mar.
Da janela se vê, senhor que lhe bota medo, sucesso em pessoa, mas está muito rápido, fica pra trás. Passa namorada, passam amigos e amigas, passa prova errada, passa a vida, passa fluindo como jugular cortada. Assim que vida vai, esvai, sangrada.
Não, felicidade nada. Na verdade, não há nada, o que vem passa, igual na vida, mas em velocidade exagerada. Tem tanto sentimento, e você sempre pensando nesses mesmos. Sinta, não bote nome que isso é coisa grosseira.
Com o copo, rodeado por pessoas que não lhe notam. Com o corpo pulsando frenético, o coração fazendo-se presente nas extremidades ignoradas. Os sons metálicos. As risadas fogosas e vaporizadas. Suor, éter da novidade.

A noite termina com a violência dos traços do sol. Aquele maldito astro, incumbido de levantar dos mares a realidade brutal do cotidiano enfartado.

Na ponta do cigarro matei meu dia, e acho que foi pra sempre.

Aforismos herméticos do cotidiano barato.

Todo o esforço é revoltante.

Neste daqui, vem vinte cigarros.

"Super prático", na embalagem de papel higiênico. Sentar, evacuar e limpar, mais fácil agora com Super Neve.

Duas dúzias de vermelho na barraca perto da Sé. Seis reais o quilo.

Neste daqui, vem cinco gramas, mas é da boa.

Aquele cara ali, tava rindo de você.

Sai fumaça de tudo que a gente da valor; Dos carros, das fábricas cujos produtos são para o bem-estar, da comidinha quentinha. Sai fumaça das minhas ventas, e nada.

Ta dormindo ô cidadão? Aqui num é lugar de dormir não! Rapá fora dessa praça vagabundo. Vai empilhar papelão vai.

O impostômetro ali pra lembrar da merda toda. Merda que não fede, é a mais perigosa, é coisa de câncer.

E por falar em gostosa, olha só aquele pernilzinho! Fala se num é coisa da esquerda, do tinhoso?

E a democracia isso, e a democracia aquilo, e também os direitos do homem e do cidadão, e essa coisa toda, a gente tem é que defender - O zé, é pra pagar como esses quilos todo de picanha que o cê pediu? - Ah meu querido, põe na conta do gabinete que isso aqui é discussão de ideologia.

Não ter graça é a prova do bom gosto de certas piadas. A vida não tem graça.