domingo, 21 de outubro de 2007

Analogia de dois dias.

Noite

Com as mãos, fiz um mundo. Criei, fazendo-o emergir de um oceano que havia dentro de mim. Modelei paisagens inspirado em sentimentos que me fizera sentir, criei cores apenas deixando a imaginação livre, percorrendo memórias de quando esteve por aqui.

Madrugada

Tentei por tudo invadir minha criação. Andei em volta dos portões, malditos portões, que não lembrava de ter criado junto ao mundo que fiz com as mãos. Sentia o frio encapando-me, o vento da madrugada usufruindo de meu sangue quente para se movimentar, e procurava algum lugar para me esconder dos sonhos que corriam atrás de mim. O mundo era lindo, mas impenetrável, o mundo era o que existe de mais profundo dentro de mim.

Manhã

A luz que atravessava o cosmo, ultrapassava a janela, as cortinas e agrediam minhas pálpebras me lembraram à dor que é nascer. Enraiveci, fiquei louco, e com as mãos, taquei o mundo inteiro no chão.

Fim de tarde

Arrependimento brotava-me pelo olho esquerdo, chacoalhando este mesmo lado de meu rosto. Eu precisava deste mundo, ele era parte do que sou, e a principal parte. Construirei outro, agora, sem portões, sem barreiras, um mundo fácil de se entrar.

Noite

Hábeis mãos, que não erram duas vezes, meu mundo está pronto, mais belo, perfeito, e sem barreiras. Não saberia existir sem ele, e mal sei como pude existir até então. Sua forma é minha alma, sua textura meus sonhos de pequeno, seu futuro, meu anseio. Confundo-me toda hora com ele, ouvindo os sons que ele poderia ouvir, sentindo o que apenas ele poderia sentir. É exatamente o que precisava para poder bem dormir.

Madrugada

Quando quis, pude entrar, e fui feliz. Que bom ter onde esconder-me, onde não ser achado por aquelas alucinações noturnas! Aqui há de se ficar bem, aqui há de ser meu éden. Adormeço em pedras aveludadas que ainda lembro-me de ter criado. Durante o sono, sou acordado por movimentos, o que me preocupa; Nada do que havia criado era para ter movimentos próprios, meus sentimentos eram todos sésseis!

Manhã

A luz mostra-me, quando acordo, a horrível cena; Sem barreiras para proteger meu mundo, sem obstáculos, o mundo dos outros me foi invadindo. O lugar que era para ser um lugar seguro tornou-se um lugar comum; não se podia mais sentir-se seguro neste maldito mundo de mentira. Com a palma da mão fechada, acabo com ele, sentindo apenas alguns caco entrarem-me pela pele, fazendo sangrar.

2 comentários:

A Autora disse...

Nenhuma alfinetada, só elogios para seu estilo, seu bom gosto na escolha das palavras, a intensidade de seus textos.
Parabéns!
Certamente virei por aqui mais vezes. E certamente irei explorar escritos anteriores.
Mais uma vez, parabéns.

Juliana Cintra disse...

Uauuu...
Entrei e mergulhei no seu mundo...

mto bom...

bjinhux.