sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Sapatos e ausência.

A toalha rendada, mal posta em cima da mesa, me lembrou você. Lembrei também dos seus pés e do jeito leve que andava. Eu queria poder fazer um bolo com todas essas memórias. Acho que eu tenho memórias suficiente até para o recheio. Gostaria de fazer um bolo delícioso, que comeria com café, quando batesse a solidão das cinco horas.

Eu troquei de cigarro. Você tinha dito que fumo tostado é melhor, e é verdade. Também não passo mais o sabonete no rosto, agora eu esfrego ele na mão e com as mãos eu me lavo. Você disse que é melhor, eu não vejo muita diferença.

O problema não é aprender a viver sem você, isso é quase fácil. O problema é aprender a viver com a sua ausência. Você é maldosa, porque a sua ausência é três vezes maior que você.

Comprei um Wisky barato, bem vagabundo. Amanhã vou acordar com uma dor de cabeça infernal, mas é bom sentir alguma coisa diferente, vez ou outra.

Eu dei cereal para o gato comer, ele gostou. Deve ser bom comer alguma coisa diferente.

Não sei porque penso assim, como se estivesse escrevendo uma carta para você, e falando todas essas coisas que eu nunca falaria. São coisas que você não quer mais ouvir. Nem sua ausência quer me ouvir.

Às vezes eu coloco os seus sapatos ao lado do meu, pra fazer de conta que você também chegou em casa.
Um dia eu trouxe uma mulher aqui, e pedi para ela os vestir. Aí eu chorei, e mandei a mulher ir embora. Quase ela levou os sapatos embora.

Quando a sua irmã vier buscar as suas coisas, eu vou falar que a mulher os levou de verdade. Assim eu os guardo para mim. Ela bem que podia levar é essa sua ausência, que é só sua.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Ano.

Essenciais leitores,

Acontece que final de ano é mesmo assim: Um breve tempo. Acontece também que tenho novos projetos, e ainda, uma viagem em janeiro.
O que não pode acontecer é este meu amado blog ficar a deriva em mares desconhecidos.
Sempre que puder, e a inspiração bater, colocarei minhas intenções poéticas por aqui.
Espero que tanto do meu projeto novo quanto da minha viagem possam surgir novas história e talvez, daí, a minha maturidade na escrita.

Gostaria de agradecer aos amigos do Bar do Escritor, que tanto me ajudaram. Aos meus amigos não escritores, que tanto me inspiraram. Aos meus autores preferidos. Aos meus sonhos perseguidos.

Prometo voltar a ativa, com todo meu gosto e interesse, em fevereiro, lógicamente, após o carnaval.

Dêem sempre uma olhada nos links aqui da esquerda, são sempre ótimos sites ou blogs, de pessoas talentosas e interessadas na cultura de um modo geral.

Boas festas à todos.
Que o ano que vem seja completamente diferente do que esperamos, para poder ter graça.
Um abraço!

Alan Nery

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Indagação ao mal tempo.

Deus meu ou de qualquer outro:

- Que é toda essa gente procurando ser alguém?

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Visa

Maria esperava o verde para atravessar. Esperava também a segunda para parar de fumar, o reveillon para começar o regime e uma deixa para largar o emprego. Um ônibus, desgovernado como Maria, entrou na calçada, matando-a e a todos que ali esperavam a hora de continuar. Das ferragens, só sobrara um provável slogan de propaganda:

– Porque a vida é agora.

-----

Ajudado por Matheus
http://mendigando.blogspot.com

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Aparências

Vestiu-se, beijou as filhas, e foi-se.
Tomou cuidado ao fechar a porta,
Um conhaque, fôlego e seu caminho.

Cansada, não do marido, nem da família;
Da vida que levava. De novo, só o estofado
Comprado em três vezes nas casas Bahia.

Um homem que não conhecia,
Ruas que nunca ia,
Mentiras que não fazia.

Maria nunca quis ser Maria,
Hoje era de volta aquela menina
Que queria experimentar nicotina.

A desgraça são as roupas atrevidas
Maria foi morta pelos tiras
Confundida com mulher da vida.

Os policias se desculparam
- Defensores da moral e eucaristia -
Quando deu na notícia:

Maria era mãe de família.

domingo, 21 de outubro de 2007

Analogia de dois dias.

Noite

Com as mãos, fiz um mundo. Criei, fazendo-o emergir de um oceano que havia dentro de mim. Modelei paisagens inspirado em sentimentos que me fizera sentir, criei cores apenas deixando a imaginação livre, percorrendo memórias de quando esteve por aqui.

Madrugada

Tentei por tudo invadir minha criação. Andei em volta dos portões, malditos portões, que não lembrava de ter criado junto ao mundo que fiz com as mãos. Sentia o frio encapando-me, o vento da madrugada usufruindo de meu sangue quente para se movimentar, e procurava algum lugar para me esconder dos sonhos que corriam atrás de mim. O mundo era lindo, mas impenetrável, o mundo era o que existe de mais profundo dentro de mim.

Manhã

A luz que atravessava o cosmo, ultrapassava a janela, as cortinas e agrediam minhas pálpebras me lembraram à dor que é nascer. Enraiveci, fiquei louco, e com as mãos, taquei o mundo inteiro no chão.

Fim de tarde

Arrependimento brotava-me pelo olho esquerdo, chacoalhando este mesmo lado de meu rosto. Eu precisava deste mundo, ele era parte do que sou, e a principal parte. Construirei outro, agora, sem portões, sem barreiras, um mundo fácil de se entrar.

Noite

Hábeis mãos, que não erram duas vezes, meu mundo está pronto, mais belo, perfeito, e sem barreiras. Não saberia existir sem ele, e mal sei como pude existir até então. Sua forma é minha alma, sua textura meus sonhos de pequeno, seu futuro, meu anseio. Confundo-me toda hora com ele, ouvindo os sons que ele poderia ouvir, sentindo o que apenas ele poderia sentir. É exatamente o que precisava para poder bem dormir.

Madrugada

Quando quis, pude entrar, e fui feliz. Que bom ter onde esconder-me, onde não ser achado por aquelas alucinações noturnas! Aqui há de se ficar bem, aqui há de ser meu éden. Adormeço em pedras aveludadas que ainda lembro-me de ter criado. Durante o sono, sou acordado por movimentos, o que me preocupa; Nada do que havia criado era para ter movimentos próprios, meus sentimentos eram todos sésseis!

Manhã

A luz mostra-me, quando acordo, a horrível cena; Sem barreiras para proteger meu mundo, sem obstáculos, o mundo dos outros me foi invadindo. O lugar que era para ser um lugar seguro tornou-se um lugar comum; não se podia mais sentir-se seguro neste maldito mundo de mentira. Com a palma da mão fechada, acabo com ele, sentindo apenas alguns caco entrarem-me pela pele, fazendo sangrar.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Doce

Já toco sua pele, pele de mulher bonita, de mulher de nuvens. Já vivo em seu corpo, percorro sua barriga, aninho-me nos seus seios, adormeço entre seus cabelos. Já sinto o cheiro suave de seu corpo quando desperta, sinto a cama vibrar ao mesmo tom de sua voz.

Brinco de percorrer seus sonhos, de participar de seus olhos, de investir contra o vento para ver-lhe feliz, satisfeita, inteira. Já sinto o gosto do cotidiano renovado pelas mudanças de humor, refrescados pela presença contínua do sentimento de não se estar só, confirmado pelas noites de domingo, em que se morre devagarzinho, quando se olham e percebem-se cúmplices no pecado consumado em dia santo.

Já vejo seus sinais, saboreio com todos os meus poros a sua estranha presença, fantasio futuros que não existirão, mas fazem-me bem apenas de se imaginar. Trago pela mangueira do narguilé seu passado, tomo em copos de vinho seus erros, brindo a hostilidade do mundo lá fora. Agora tenho cá meu lugar seguro.

Seu cheiro nos lençóis, nas toalhas de banho, sua imagem montada em desejos noturnos, sua presença um fato lastimavelmente mentiroso.

Meme

Disseram-me que é sagrado, e minha vida tem sido tão assim sem ofender nada que seja sagrado, imagine se ofendesse...

Começara no blog "Canto da Boca", chama-se "Meme", e é assim;

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

Próximo aqui, tinha Flores do Mal, Baudelaire;

"Beijamos a sonsa matéria
Com a mais tensa devoção
E depois, da putrefação
Abençoamos a luz cinérea."

Eu gosto da acidez do Baudelaire, as vezes sinto a vida justamente como sinto os seus versos...

Enfim, num tenho muito mais pra quem repassar essa brincadeira, acho que não sou muito sociável.

Fica por aqui, assim, minha singela participação.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Entre a alegria e a tristeza, apenas um cigarro, e seus cinco minutos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Desperdício;

Tic, Tac;
Quem
Foi
Que
Deixou
Torneira
Da vida
Aberta?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Modernidade

Moderno
Que sou
Queria
Um mouse;

Arrastar
Tuas vidas
Teus ícones.

Queria
Abrir-te,
Apenas
Dois toques.

Talvez
Encerrar-me,
Desligar-me.

Tentaria
Recortar,
Os sonhos
Criados

Move-los
Para a pasta
Da realidade

Usando
Botão
Direito do
Mouse

Mas a seta
Viciada
Não passa
Da tela
Ligada

Tecnologia
Maldita
Limitada
Que não alcança
Vida
Modernizada

(Dedicado, como lembrança, a um amigo.)

domingo, 7 de outubro de 2007

Ponto

Sou pouco na vida, sou riscos;
Limito-me a preservar minhas fronteiras
E cansa-me ser tanto assim, vida inteira
Cansa-me o pouco da vida que sou

Sem sonhos, sem flores ou jardineira
Levo pouco; o corpo, a tinta, a vida
Basta-me a ponta para fatigar-me o caminho
Sei dos destinos todas as linhas.

Sou pouco na vida, insisto
Mas o pouco retilíneo me exausta
Na clausura dessas retas matemáticas
Que não se tocam, apenas arrastam.

Não gosto de muito, gosto do ponto;
Um píxel redondo, poderoso e soberano.
Um ponto daqueles que acabam com o conto
Ser risco me cansa, quero ponto, e não encontro.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Chuva

Foi só chover. Foi só toda essa porra de água cair lá fora para tudo voltar como era; todo esse fracasso condensado, todas essas mémorias rasgadas em fotos mal-tiradas, toda essa fraqueza de um corno qualquer.
Eu quis me fazer de forte, quis mostrar-me um adulto, gente crescida e nem se quer chorei. Tentava lembrar as tantas coisas boas que viriam com essa separação; A gorda da minha sogra que eu nunca mais veria, aquele cachorro fedido, a viagem que era toda vez que tinha que ir para casa dela, lá na putaqueopariu, o fim dos pitis nojentos que me tiravam do sério.
É claro que eu sentiria saudades; Saudade do sexo, principalmente. Mas isso seria fácil de resolver, apenas uma questão de procurar as esquinas certas.
Eu conseguia deixar esses pensamentos sempre bem próximos, ao alcance da mão, para quando essa babaquice de solidão (ou insanidade) me batesse, eu tivesse as minhas armas para revidar, mas essa merda de chuva, porra, essa merda de chuva não poderia ter vindo em pior hora.
Agora que eu to de saco cheio desse emprego de merda que tenho, o mesmo emprego que ela havia me dito para não aceitar, agora que não tem um pão nessa casa, pois era sempre ela quem me ajudava nas compras, agora que chove fino, tipo de tempo que literalmente melhor gozavamos, agora que estou que nem cachorro vadio, fazendo da minha sala uma avenida de duas mãos em que só eu passo enquanto todos esses pensamentos infelizes me seguem...
Porra, não era isso que eu queria? O fim daquele relacionamento que me consumia as forças, que me fazia mal, que me botava puto? Era! Pois então, aí está! Posso tomar meu wisky quando quero, posso por as minhas músicas no carro, agora eu posso! Mas essa chuva...
Essa chuva me faz sentir de volta aquela criança, que esperava toda quarta-feria a hora do bolo que mamãe fazia, que brincava de dar nomes às arvores, que queria ser astronauta. Essa chuva me faz lembrar do dia que meu pai se foi, do dia que me descobri sozinho, me faz lembrar a morte.
É como se eu me tornasse uma flanela velha, embebida na chuva, misturada com essa lágrimas presas, com esses gozos forçados, artificiais mas quase bom, para essa alma quieta.
Eu sei que não é bem a falta dela que me escorrega o coração, mas é que nada tenho, e das coisas que tive, apenas ela ainda existe. Até os sonhos de outrora já dei um jeito de matar. Acho que não sei lidar com erros vivos...
Não devo pensar nisso, não posso pensar nisso. Acaso enlouqueço novamente? Será que esse tipo de coisa ainda passa pela minha cabeça? Será que ainda sou capaz?
Essa chuva... Esse sangue, maldito sangue que escorre, maldito que será a me delatar, esse sangue que escorre de todo sonho que jaz morto, que faz sobrar só o corpo em minhas mãos, corpo vazio, sem memória, sem desejo, sem olhos...
Ja nem sei o que é real e o que deveria ser, sento na avenida que dá de frente pra casa dela, imaginando que ali é a minha sala, e que ali só eu e meus pensamentos infelizes a zanzar, a dobrar o silêncio fazendo como que origami, como que oragami, como uma porra de origami...
Que de mim, quando a chuva acaba! Que de mim! Com o cabelo ainda molhando, pingando a sangue e chuva amanhecida, com a cara beijando a calçada com cheiro de bosta de cachorro, com uma merda de trinta e oito na mão. Que de mim, caçando os erros a bala, só pra tentar dormir bem nessas noites de chuva...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Brincando de viver

O silêncio sólido, distorcido em imagens de uma memória distante, investigando os mil sentimentos de agora, contando com cores a minha história, fazendo-me sentir a vida que tive e que sou, a vida que pratico.

Sou derradeiro, sou pequeno enquanto eterno, sou anônimo. Cabe em mim um pouco deste mundo inteiro, cabem sonhos seguros, sonhos daqueles que inventamos e cuidamos, para ao menos servir de companhia quando a solidão dá de nos abraçar. Cabe saudade, sentimento invernal, cabe preguiça, sentimento veranil, cabe amor, sentimento de quem está vivo. Cabe tanto, mas tanto, que as vezes sinto-me até inteiro!

Qual! Bobagem! Não se pode ser inteiro enquanto vivo, sendo, somente, notas musicais deste enigma musicado, desta obra bonita, deste desejo de estar. Por isso só, sempre, por isso o mar a nos fazer ilhas, por isso o choro no chuveiro. Não é de tristeza que olho pra chão, é de pura humanidade.

Às vezes, de tão humano, quase toco no imaterial, quase alcanço o pôr do sol, quase viro poesia, e é nessas horas que a solidão solidifica-se em silêncio, pescando em minha vida cenas que me fazem sentir a imortalidade que é existir; mesmo derradeiro, mesmo pequeno, mesmo anônimo.

Tenho pelos olhos fotos do mundo, pelos ouvidos os sons, pelo tato as texturas, pelo cheiro as composições e pelos sonhos as intenções. Tenho cá as minhas impressões, o que faz de mim parte de um todo qualquer.

O silêncio sólido, distorcido em imagens de uma memória distante é presente nestes dias de céu coberto. Somos sempre dois, intervalados pelas diferenças da existência, e acompanhados pela eternidade dessa mesma existência, brincando de fazer ondas no oceano da vida, brincando de orbitar a felicidade, face a face; brincando de viver.

sábado, 22 de setembro de 2007

Texto bem pessoal para ser poesia, prosa ou panfletagem. {Sobre até onde as sensações podem chegar, e sobre saber ser grato, e dizer obrigado, sobre.}

Porque é papel, porque é mentira, porque é bricadeira.

Porque dizem que é salgado, mas se sente doce e só se lembra que no fim arde a ponta da língua.

Por que tem jeito de reencontro de amigos, porque lembra uma conversa gostosa, daquelas que se muda de assunto tão rápido que parece que ainda se fala da mesma coisa.

Simplesmente porque é simples, e faz parte da vida.

É incomparável, é impossível de se reproduzir artificialmente, é poético.

Não é nada, pois ainda representa tudo, e acaba mudando sempre.

É assim, sempre foi, e você se lembra, não é!?

-------------------------------

Das tardes que se fazem, se constroem e se rebentam nas praias do fim de todo dia. Desses dias comuns, em que não é a poluição, nem o congestionamento nem as pombas quem vão lhe tirar a atenção. É dessas sextas-feira que nada têm do dia da criação.

É o gosto para o velho adormecido, que mal pensa na vida, para não ter com que se chatiar. É um briquedo novo! Talvez nem tão novo assim, talvez apenas um brinquedo guardado lá no fundo do guarda-roupas, mas do qual nem se lembrava como traz felicidade! É esperança, quando se sente a primeira gota cair em terra rachada pela vontade dura e soberana de um tempo sem amor.

É surpresa, mesmo que marcada, apenas pela vivacidade que se traz, que anuncia! É daquelas belezas que se quer olhar, e olhar, e admirar, mas que não se tem a menor pretenção de ser dono! É como um jardim de azuis muito bonitos...

Gotinhas de chocolate naquele biscoito gostoso, filme antigo na televisão, telefonema de alguém de longe, chuva no finalzinho da tarde e a manhã seguinte, com aquele ar todo novo, recém-nascido...

Das certeza floreadas pela intenção de vida, pelos planos muito bonitos, pelo amor que se vê e, de repente, até se sente! Do sorriso do qual milhares de coisas boas se desfragmentam e permeiam o ar, como que perfume, como que saudade.

É a volta da esperança, em forma física, com endereço e documentos. É entender que ainda se é criança, pois de tudo ainda resta tudo, nada se fez nem pode ter chegado ao fim.

É cachoeira, depois de uma trilha longa de calor e curiosidade.

Não é sonho, e de tão mágico, também nem pode mais ser realidade.

É, pode ser de o vento vir contra o cais sim, pode até mesmo ser da vida acostumar, mas já tenho, já sou e já sei, que em algum lugar do mundo, em algum lugar destes concretos usados pelo tempo, há um estrela, e de onde vejo, até onde sei, parece que acompanhada por mais outra, ambas se orbitando, ambas se procurando e se achando, ambas dançando a música da beleza, como que para provar para o pequeno marujo de mar sossegado aqui, que é lindo, muito lindo, e que para sempre, em todas as horas, pelo menos, pode ser...

É vontade de dizer obrigado, por ter sido testemunha,

Obrigado.

domingo, 16 de setembro de 2007

Enquanto humanidade...

Talvez tenhamos entendido errado. As explicações que nos deram, em forma de palavra sagrada, em forma de conselho de pai pra filho, em forma de amor. Talvez todos nós tenhamos entendido errado, e por isso estamos assim.

Por algum motivo, histórico, psicológico ou apenas casual, a humanidade hoje é sem representantes. Isso não se deu em um grande espetáculo, não foi reportado em noticiários importantes, não foi motivo de choque. A proposta é saber; Por quê?

Por que é que deixamos de ver no rapaz do metro, cabisbaixo, nós mesmos? Por que é que deixamos de ver na moça toda arrumada, nós mesmos? Por que não enxergamos mais o reflexo que há, o espelho que é? Na violência cometida pelo que passa fome, ou por aquele motivado por um ódio temporário, que vem de sua contemplação perante a nossa fraqueza de vida, na criança que chora por um chocolate e na mãe envergonhada, sem saber o que fazer para que aquela criança entenda; Não temos mais dinheiro! Nas viagens que os ricos fazem, na alienação de algum deles, na vontade de se esconder. No receio dos políticos corruptos, que não passam de seres humanos aterrorizados, enfraquecidos pela falta de sonhos... Ou nas grandes obras de artes, nas realizações maravilhosas, nos progressos científicos! A humanidade é uma só, e assim, eu sou tudo isso, e tudo isso me é!

É claro que se erra, é claro que corremos, é claro que sim. Mas também é certo que somos das criações a mais linda, que dentro de nós, como que caldeira, todos os sentimentos do mundo nascem e morrem milhares de vezes por segundo, que somos capazes de ir ao topo do mundo, à lua, ao centro do universo enquanto somos também capazes de ver morrer de fome uma criança, ver se desfragmentar uma família, ver a violência tomar conta de alguma cidade. Somos humanos! E isso já deveria explica tudo!

Não há culpa, não há verdade. Há a certeza que deixamos de nos identificar e por isso algumas coisas ruins acontecem; Se não sentimos os desastres, desastres não existem, se não somos atacados, ataques não acontecem, se não ganhamos dinheiro, a coisa realmente vai mal no mundo inteiro.

Deixemos de ser um, deixemos a unidade para fazer parte de algo maior; A totalidade! Atenção; Não estou falando para renunciarmos às nossas personalidades, não! Estou falando para unir todas elas, fazer um grande apanhado, reunir as peças que montam a humanidade, construir, como em um quebra-cabeça, onde as peças são justamente o moço do metro, a mulher bem arrumada, os atos de violência e tudo o mais, e a foto que vai se formar, aquela que sempre fica na capa do jogo, é a mais linda possível; A razão da humanidade, simples, soberana e bonita.

É inevitável cair em sentimentalismos, talvez pieguices;
Eu amo a mim mesmo, por sentir em mim um pedacinho da humanidade, e amo a humanidade, por ver que é de lá que todos os meus sentimentos vêm.

Mas porque? Porque é que deixamos de ver assim, de ser assim, de sentir assim? Porque é que não conseguimos entender os conselhos, as palavras, o amor?

---

Os sentimentos deste texto foram expectorados pelo espetáculo "Canção de mim mesmo", do Grupo Ateliê, em cartaz no Sesc Av. Paulista, até 23 de setembro.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Caminho

É um caminho, desses que vão se entortando. De terra vermelha-pôr-do-sol batida, demarcando onde é que termina o lado de lá para começar o lado de cá.

É do tipo de caminho que nossos olhos percorrem antes de nossos passos. É do tipo de caminho que a eternidade vai engolindo, que o horizonte vai desfragmentando, tão devagar que se tem a sensação que o tempo ali no final não passa como passa aqui.

É um caminho, de tantos caminhantes que mal posso imaginar. Muitos deles mortos, suas lembranças mortas, seus sonhos mortos. É, assim, um caminho de mortos? Não, antes e muito mais que isso, é um caminho.

Poetas, homens de negócio, engenheiros, escultores e apaixonados. Papas, presidentes, representantes de entidades humanísticas, comunistas e amantes. É desses caminhos que apenas a vontade basta.

Sem nenhuma paisagem, para que possa você mesmo desenhar a sua natureza, ao seu gosto. Sem ninguém, para que possa você mesmo construir suas companhias, ou se quiser, ser sua própria companhia. Sem nenhum som, para que a música de seu corpo vaze, permeando o ambiente, fazendo dançar o vento, que também não há.

É simples, é bonito, é quase comum. Mas enquanto continuar a colocar um pé a frente do outro, enquanto decidir não parar, haja o que houver, se decidir que quer chegar, mesmo sem saber para onde este tão vespertino caminho caminha, saiba que este caminho é só seu, inteiro. É rei, é príncipe e é escravo, é pai, é filho é sonho e realidade. Este é o seu caminho.

Dizem que ninguém chegou ao fim, dizem que é feito de papoulas, dizem que não é natural. Os de coração amargo exasperam que é sonho, fantasia. Os desacreditados se perguntam, e os quase mortos se contorcem. Eu não penso, não busco filosofia no caminho, apenas o atravesso, como a vida me atravessa, e sei, que assim como sinto a vida, o caminho me sente.

Agora, na parte em que estou de meu caminho, estou vendo cinco pássaros rasgarem a frieza do céu anônimo, vejo flores de lótus de um azul-oceânico, que vão florescendo a cada passo meu. Fitas amarelas, vermelhas, azuis, rosas, verdes e lilases chovem do céu, mas antes de tocarem o chão, explodem, transformando-se em minhas lembranças; O riso de minha mãe, a seriedade de meu pai ao trabalho, a sensibilidade de minha irmã, as tantas cenas com meus amigos de tanto tempo, meus sonhos antigos, as paredes de meu quarto, os lugares em que estive, ou que tenho a impressão de conhecer. O sol se mantém bem ao final do que meus olhos sentem, de forma que não posso olhar muito para frente, conservando os olhares para as redondezas, para o que acontece agora mesmo. Do céu, com uma beleza enteógena, uma música toma como compasso os meus passos, cabendo a mim aumentar ou diminuir o andamento, o que faço conforme meu estado de ânimo...

Este tem sido o meu caminho, assim tem sido a minha vida.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Escritos históricos que achei no guarda-roupas...

- Acha-te homem! Aparece-te das profundezas do meu Eu, e torna-te, indentifica-te, construa-te, exista!

A poesia concreta da criação, imersa em uma solidão que sempre foi, que sempre será, que tem de ser. A vida criou o homem, Deus criou a vida, e a solidão toma corpo em carbonos de milhares de cadeias. Deus é o arquiteto da solidão!

O Homem, e apenas. Em florestas, em arvores, em rios, mas enquanto homem, apenas homem. Foi-se percebido que a solidão é pouca quando se está em apenas um, que a obra talvez ainda não estivesse completa, e que Deus, sentia Ele, haveria de traçar linhas mais fortes neste expressionismo que deu-se em seis dias. Estava sendo quebrada a rigidez que separava o sonho de Deus, e a realidade em que ele havia se encontrado.

- Se ainda não posso ver em minha obra o que tenho por dentro, se tantas cores e movimentos ainda não dizem a ontologia do Deus, que se faça mais! Quero que de ti, querido e próximo Adão, quero que saia de ti as linhas que aperfeiçoaram a melodia da solidão, de tua costela, meu querido, de tua costela sairá um sublime ser e ambos, Adão e Eva, dançaram a música que sempre ouvi, que sempre senti, mas que nunca pude ver. Quero ver, faça-me ver!

Aos olhos de quem sempre quis ver uma música acontecer, de observar os tantos personagens que os intrumentos pintavam em sua cabeça tomada pelas vibrações melodiosas e envolventes, imagine! Ponha-se a imaginar, ver seus sentimentos tomando formas, corpos, sentidos, movimento!

- Quero de ti milhares, quero à infinidade! Devem reproduzirem-se, devem povoar minha mente, devem eternamente! Quero milhares, milhões, quiça bilhões! Imagina! Se posso ver a minha solidão em dois de vocês, maravilhosas figuras, imaginem em incontáveis! Finalmente, sinto-me leve, sinto-me inteiro, pois não só com os olhos da alma que vejo meus sentimentos, agora os vejo com todo meu ser!




-----------



"Deus criou o homem e, não o achando bastante solitário, deu-lhe uma companheira para o fazer sentir melhor a sua solidão."

Paul Valéry

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Do que liga dois pontos, e do que não faz parte da vida...

A narração da vida, ela não é linear.

Um carro freia, devagar, e o barulho do contado do ferro com a áspera superfíce da pastilha de freio faz um som bem agudo, talvez no limiar do que podemos escutar.

Os gritos de brincadeira de criança chegam pela janela, e pode-se imaginar elas correndo, contorcendo o corpo para que o pegador não as pegue, pulando alto para chegar ao lugar seguro.

Volto ao texto.

A narração da vida, não é linear.

Os choros de um nenem que mal sabe de onde vem a vida, se misturam com o latido de um cão de apartamento. Imagino, dentro, que a mãe, descabelada, tenta entreter a criança e fazer calar o cachorro.

Ônibus.

Ao texto, de novo.

E a narração da vida não é linear.

Reparaste em como andam as pessoas na rua? Cada uma possue sua característica, talvez tão única quanto impressões digitais ou desenhos da pupila. Interessantíssimo.

O vento encurva um coqueiro sossegado, e um pequeno pássaro desenha uma aureola em volta dele.

Ao texto, ao blog, concentre-se infeliz!

A vida, realmente, não é narrada linearmente!

Enquanto cá penso, e busco as tantas impressões que me foram feitas durante este dia, o apito da fábrica soa oito horas, e mais um monte de coisas inundam as minhas retinas. Fazer parte de milhares de narrativas é algo complexo e, ao mesmo tempo, completamente cotidiano! Enquanto olha, é olhado, enquanto sente, é sentido, enquanto pensa, é pensado e, ao mesmo tempo, milhares de outras histórias acontecem nesta grande cidade! Histórias essas que, cedo, tarde ou talvez nunca, cruzaram com os seus passos neste palco, mas que de forma ou outra, intereferem, refletem, copiam, plagiam, inspiram e em um todo, somos muitas partes de muitas pessoas que nem se quer sabemos de que sabor de sorvete gostam!

Moto e seus escapamentos habituais.
Avião, e o prédio treme.

A fragmentação me faz inteiro, completa-me. Os tantos cenários, as tantas falas, as tantas ações trazem consigo o reconhecível sabor da vida; O gosto da velocidade, da mudança, da novidade renovada em toda esquina, o gosto de sentir o fluxo da vida interrompido, pois viver é beber de milhares de cachoeiras, diferentes e próximas.

A moça de agora pouco, e seu sorriso gostoso.
A saudade pequena, alimentada sempre às dez horas.
A Janta.

Nada é linear,

nem se quer a narração da vida.

domingo, 9 de setembro de 2007

Moinho

Moinho,


pode ser de vento
pode ser de água
por até ser carro de boi,

mas tritura
amassa
rasga

e pouco tempo
o que era caroço
agora é farinha
que pode usar até para adubar
aquela maldita erva daninha
que não cansa de nascer
sempre
entre o cercado e a vida
entre a lembrança e a decisão
entre o que fui ontem
e o que posso ser amanhã...


eu quis ter no meu jardim
só daquelas plantas que nascem
assim, bem sem querer
ouvi o português e todos os outros eus
agora, daqui da entrada
que não é principal porque ninguém passa
pode-se ver o que eu quero mostrar
mas nos quintais do fundo
tenho da minha criação
tudo o que quiser nascer
é bom não escolher
deixar que da terra brote a surpresa
que rompa as certezas
é bom ser natural
ser inteiro
ser pequeno
é bom.

E se de toda essa história, sobrar um caroço...

Moinho!

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Citação e relação dolosa...

Sou o guri
Que sente e ri
Com o Invisível.

James Joyce,
em Ulysses,
que não me conhecia, acredita.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Dia desses...

Muitas vezes,
a página em branco
diz muito mais do que qualquer letrinha em ordem.

Hoje é um daqueles dias.
Em que o silêncio das coisas cotidianas
já me faz bem suficiente para não querer nada mais.
Hoje é um daqueles dias
em que a página em branco
é o suficiente pra fazer calar minh´alma.

Os versos que a vida faz, das tantas rimas engraçadas que nos acontece em pontos de ônibus, por exemplo, não podem ser superados pela vontade ignóbil de um poeta, um poetazinho, que mal se acostumou a amar tanta coisa ao mesmo tempo.

Os olhos, essa é a única parte de nosso corpor mal esculpida. Os olhos, eles não deveriam estar voltados para fora, se há, então, um universo tão grande aqui dentro. Aconteceu, por assim ser, de olharmos sempre o mundo, isso quando muito, e pouco ou nada nada nos lembramos das tantas coisas que se passam por aqui, dentro deste fragmento da vida em seu todo.

Hoje é um desses dias
Em que se vê poesia, se vê respostas
Até em folha caída.
É bom ser assim vez ou outra
Tem-se um cantato maior que a vida toda.

Hoje é desses dias
Que folha vazia, em branco, diz tudo
e cá estou eu, espalhando tinta grossa e preta
manchando a verdade com dúvidas de criança pequena
Pra nada mais do que aliviar a pressão que se sente em alma cativa.

Hoje, é um desses dias...

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

"Eu devo ter chego ao paraíso que construí olhando pela varanda..."

Um balão de unicórino, preso em uma janela bem lá no alto, enquanto tropas de homens muito velhos, quase que se desfazendo no ar, passavam, batendo as botas empoeiradas de terra que antes os enterrava.

A esquina começava a se tornar rua reta, enquanto as ruas retas começavam a subir em direção a uma mulher de branco que cantava alguma coisa sobre balanço de parquinhos sem crianças...

Estava muito quente, se via pela cor dos aços que despontavam das construções quase totalmente destruídas, mas calor não se sentia.

Um gato se enrosca em minhas pernas, como que querendo atenção. Quando vou com minhas mãos em sua direção, ele começa a voar, com asas que apareceram logo atrás dos bigodes.

Sentada em um banquinho branco de praça de cidade pequena, uma moça muito bonita, com os cabelos longos e negros cor-de-passado, mascando chiclete, ouve música em um fone de ouvido, e dança só com os pés. Ela está com os olhos fechados, livre desta imaginação toda que está acontecendo aqui fora.

Acendo um cigarro - lembro-me de todas aquelas pessoas que são que nem cigarro; duram no máximo cinco minutos, e o que sobra nunca dá pra guardar - e começo a observar as luzes que o céu possuia de cima daquele prédio de mentira. Azul, violeta, transparente, Anil. O céu nunca muda muito...

Eu devo ter chego ao paraíso que construí olhando pela varanda...

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Estrela, Amor e contos que não são mais da carochinha

Anne sonhou com três estrelas.

De manhã, ela quis colocá-las todas no céu, mas só tinha espaço para duas.

Anne fez um colar com a terceira estrela.

Foi em um dia de março que Anne começou a namorar com Luís, e uma vez, na casa dele, Luís estava preparando uma sopa de solidão. Anne tirou a estrela do peito, mergulhou na sopa, e fizeram então, uma sopa de estrela.

É essa a coisa boa de se ter alguém;

Mas lembre-se de sempre escolher uma pessoa que tenha, pelo menos, uma estrela, guardada no peito, nos olhos ou em uma caixinha de veludo preto.


------------------

"- Mãe, quero ir pra lua...

- Fazer o que?

- Falar com Deus!

- Deus não está na lua, meu filho.

- Então me dá um brigadeiro?"

Diálogo real, dentro de um ônibus, indo para o centro de São Paulo, às sete horas da manhã.

domingo, 26 de agosto de 2007

Carta de um quase suicida para uma pessoa que ele gosta muito - "SEM NENHUM VALOR LITERÁRIO"

Atenção!!!


A partir de agora, o meu objetivo, único e exclusivo, é fazer com que você entenda aquilo lá. Mas pra isso,



Atenção!!!


Atenção que eu fechei a persiana, e agora pouco você vê da realidade, pelo menos daquela realidade que costuma acontecer todo dia. Atenção que assim mesmo eu posso acabar por fechar sua palpebra, e aí só vai restar a realidade que você não conhece ainda.

Todos os desenhos da calçada, daqui até onde eu moro, começaram a dançar! Começaram para que assim fizessem parte da vida que agente num vê, que agente pisa em cima, que agente ignora, e que mesmo assim nunca deixa de ser vida.

Sabe que em um dos desenhos eu vi justamente a casa na praia que eu queria ter?

Atenção, merda!

Você não está deixando as coisas acontecerem, você não está.

Toda nuvem tapa o sol, todo sol cega todo olho, e a realidade é quase que ofuscada. Quase que. Ou não, porque se eu não percebo, se não chega a mim, se eu não vejo com essa droga de olho, não pode ser realidade, não é?

Não. As coisas existem além de você, sobre você e poucas, pouquíssimas, por você.

E ainda assim, quase toda praia tem quase toda areia branca. Quase!

É, porque pouca coisa na vida é completa, então pare de imaginar! Pare! Você ainda está prestando atenção? É simples, poxa vida!

Eu to dizendo que é pra você parar de ensaiar, de representar, de ser ator dessa porcaria de vida que você tem! Pare com isso, você não é um artista, não o dia inteiro!

Essa zona toda, esse colapso diário, esse onibus que não chega, essa moça de pernas bonitas, puta que pariu, isso tudo é vida, e que parte disso você não entende?

Alguma coisa lhe falta, me falta, para que não vivamos! Sempre, sempre, sempre, sempre, representamos, e não me venha dizer que não! Quanto das suas cenas diárias você realmente sente, realmente vive? O café que toma, sente o sabor todo dia? Mais forte que ontem, mais fraco, doce ou simplesmente e graciosamente igual? E aquela curva que o motorista que sempre corre do onibus fez, não dá frio na barriga? Você lembra que roupa sua mãe estava usando antes de sair de casa, e quais as expressões do rosto dela lhe faz sentir aquela criança pequena que fora há alguns anos?

Atenção!

Atenção porque tudo passa, e num dá pra agente virar ator pra sempre, não pode ser! Tá, parece teatro, mas é vida! Porcaria!

Ta vendo que hoje ta ventando? Mais ainda que ontem! E isso é bom, é gostoso, faz a cortina voar até o meu rosto e parece até carinho!

To ficando louco? A vá!

Descontrução!

Cáustico.

Vá até o supermercado e vê como parece que agente sempre escolhe tudo na vida, porque é só passar com o carrinho, esticar a mão e pronto! Tudo na vida é assim!

É.

To mais calmo agora. Ainda bem. Porque tudo isso tava na minha garganta, e eu tava ficando preocupado que as pessoas não percebessem!

Mas é sério, pensa no que eu to lhe falando, pensa nisso.

Não pode ser assim; chove por causa da nuvem, e é assim desde que eu nasci. Carne. Osso. Coração e sentimento que não pode ser negligenciado. Por falar em corpo, quanto dele você realmente conhece?

Atenção...

Já que não existe uma árvore com seu nome, ponha nome em suas paredes! Elas estão com você sempre, e nunca ganharam nem um "bom dia".

Tente sentir de verdade. É muito bom, e aí agente chega até a ser humano de verdade.

Realidade.

Um Humano que ganhou um presentão, podendo sentir.

Aquela música do rádio!!!!

AAAAhhh, eu adoro ela!

Eu termino de falar com você um outro dia, mas lembre-se de tudo isso, por favor, lembre-se que quero apenas seu bem, e queria que você viesse me visitar aqui na casa nova também.

Beijo.

-----------------

"Ninguém terá experimentado a causa verdadeira de tais acontecimentos, mas todos terão visto uma imagem deles."

Baudrillard

"(...)No final das contas, a única coisa que torna uma pessoa interessante é a sua capacidade de dedicar-se."

Francis Bacon

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

"O poeta e a poesia"

Luís é poeta. Luís é poesia.

Luís ama muito Ana flor, uma menina linda, e que também é poesia. Ele tem tido muitos sonhos com Ana flor, muitos, e em todos eles, eles ficam juntos, e na maioria, eles seriam felizes.

Luís nunca falou com Ana flor.

Com tantos sonhos, Luís escreve. Passa através de palavras, para o papel, toda aquela realidade de seda, que é jóia para Luís, jóia rara.

As suas poesias são lindas; É mar tranqüilo em dia de primavera, é céu quase todo aberto, e as nuvens que ficaram tomaram uma cor roxo-eternidade maravilhosa. É música que toca enquanto andamos pela cidade quieta, ainda cheirando a manhãzinha.

Luís convive com as palavras. Por isso, Luís é um bom poeta.

Acontece que assim não é com as pessoas; Ele não sabe ter amigos. Luís não convive com pessoas, embora sinta prazer em vê-las. Escreve poesias, sente a vida passar, ama muito; Mas como conhecer Ana flor? Luís queria muito que com suas palavras pudesse construir uma pessoa igualzinha a Ana flor. Já tentou, mas ele não consegue.

Todo poeta sabe que a poesia é eterna. Alguns acham que a vida é. Luís achava, e se enganou.

A vida passou muito para Ana flor, e ela teve que se mudar, para poder se cuidar. Luís só soube tempo depois que ela havia ido embora, e com ela, toda a sua chance de conhece-la.

É Luís, se a vida fosse uma de tuas poesias, poderias escrever um outro final, onde teriam uma casa na praia, e que a janela do quarto todo dia chateasse batento ao vento de tardezinha. A arte, que é tentativa de vida, ainda não alcançou a perfeição, e é por isso que são tão diferentes, enquanto completamente iguais.

O Amor é poeta, mas nem sempre, amar é poesia.

As vezes, é preciso ser mais vida, ser mais rude, ser mais real, para que a felicidade de se amar toque em tua campanhia.

Mas ainda assim, Luís fez sua escolha.

Luís é poeta. Luís é poesia.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

"Deus é um astronauta..."

Deus. Deus é um astronauta, e agora é mais fácil de entender tudo mais.

Estando Ele assim, imerso em um vazio tão grande, em uma imensidão completamente desconhecida, só, vendo os planos de outro dia funcionarem sem necessariamente precisar Dele, é mais fácil de entender, então.

Ser grande, ser poderoso, ser eterno, ser o que ninguém mais pode ser, enfim, uma prisão. Todos nós tivemos escolhas, e ainda as temos, mas Deus, quem mais ele poderia ser? Que outra profissão poderia exercer? Que outros sonhos poderia ter?

Se todos nós, tirando os temporariamente depressivos, precisamos de amigos, se todos nós, inclusive os internados e os sãos, precisamos trocar de rotina vez ou outra, pra nos sentirmos vivos, para poder tocar na barra da vida e sentir que é leve, suave, e sobretudo, que existe! Se somos o reflexo do que Ele é, então, assim, é mais fácil de entender.

Deus é um astronauta.

O que ele faz para se sentir vivo? Para tocar o tecido da vida, que dança, de vagar, para todo mundo? O que ele faz para se sentir dentro do "todo mundo"?

Deus é um astronauta.

Sem som.
Mudo.
Talvez até triste, vez ou outra.

Deus é um astronauta.

Maravilhado com a velocidade das coisas,
dos mundos,
dos sonhos.
Maravilhado, mas mesmo assim, ainda longe, bem longe.

Deus é um astronauta,

e agora, acho que começo a enteder a vida.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

"Obrigado..."

A meia-escuridão e a música
Tocam sinos, promovem a lembrança
Faz-se um ser-estar meio que inteiro
Ouve-se qualquer criança no mundo inteiro.

Sente que ser vivo pouco requer
Sente que ser pouco qualquer porco
E se vá. Ondas, que se vão, nenhuma é em vão
São sempre testes de uma onda maior pra vir.

Sente que não há um cais de verdade
Nenhuma chegada chega sem partida
E se é no vai e vem que assim caracteriza
Não há para que ter um ponto de olhos marejados.

Caminhos que o mundo nunca abriu
E abrirá, assim como Moisés
Que foi, e então o mar se abriu
Nenhuma estrada é boba
A se abrir se ninguém quer passar
Queira, vá, que abriram-se e passarás

Sente que essa meia escuridão faz-nos viajar
Não é preciso dinheiro, nem carro, planos não são precisos
A mastigável mistura de luz faz sua parte em nos guiar
E guia, essa parte é sempre a melhor da vida
Ser pequeno e só, ser inteiro, ser filho e ter amor
Nunca se achará nenhum jardim, de Deus, dos homens ou das flores
Melhor do que ter a tardezinha sempre, sempre, só para você.

- Tome o café menino, tome que já esfria.

Tomo sim. Sinto o gosto de ser assim.
Obrigado a minha mãe, aos que antes dela vieram, e aos que foram construíndo tudo isso.
Obrigado por ter tido a pequena chance de ser um pequeno elemento nesse circo sentimental.
Onde palhaços adestram o amor, onde elefantes guiam os mágico, e onde há sempre um velho simpático
Quase sempre sozinho a assistir esse gostoso espetáculo
Que ele mesmo, por autonomia, decidiu chamar vida.

---------

"Uma semente engravida a tarde.
Era o dia nascendo, em vez da noite.
Perdia o amor, seu hálito covarde,
e a vida, corcel rubro, dava coice,

mas tão delicioso, que a ferida
no peito trantornado, aceso em festa,
acordava, gravura enlouquecida,
sobre o tempo sem caule, uma promessa.

A manhã sempre-sempre, e o dociastuto
eus caçadores a correr, e as presas
num feliz entregar-se, entre soluços.

E que mais, vida eterna, me planejas?
O que se desatou num só momento
não cabe no infinito, e é a fuga do vento"

Instante - Carlos Drummond de Andrade

Obrigado, Drummond, por ter sido gauche na vida.
Obrigado, anjo torto.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Céu

Hoje eu olhei pro céu.
Vi tudo que a eternidade perpetua,
vi tudo que desafia o destino,
vi pouco, vi o céu, e já foi bom.

Hoje vi o céu, e nem é dia especial,
exceto pela morte do poeta que já vem,
pela sorvete de ontem a tarde
e pelo sol que tem surpreendido.
Hoje vi o céu e percebi
que tem tempo que ninguém olha pra ele.

Há de se olhar para uma pessoa, vendo mais do que um humano.
Há de se olhar para uns versos, vendo mais do que se fez impresso.
Há de se olhar para vida, simples, bonita e elegante;
Bem mais do que efemeridades que atravesso.
Há de se olhar para o céu, não perguntando pelo tempo, se chove ou se faz frio,
Há de se olhar para o céu como quem olha para dentro de sí.
Sem medo de ver o vazio, o vazio também é bonito,
Sem medo de sentir o azul, a tranquilidade que há,
Sem medo de ser simples, de ser gente do sítio que sente a tardezinha bater na janela.
Há de se olhar para o céu, acima de tudo, e pelo céu, quando assim for necessário.
Mas há ainda de se olhar para o céu, principalmente, porque é bonito,
e a beleza convém aos olhos, dos condenados e dos que condenam.
Há de se olhar, e assim, fazer a vida valer a pena.


-----

Já faz tempo. Vinte anos. Mas se teus versos possuem-te, indiretamente, ainda vives.
E se fizer tempo que ninguém olhou para o céu, ou para uma de tuas poesias, não gaste tuas unhas para arranhar a caixa de madeira, talvez seja um tempo que nem valha a pena.
Mas acredite, ainda vives.

(Drummond morreu no dia 17 de agosto, a vinte anos atrás.)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

"Passeio no centro..."

A cidade ergue em prédios antigos toda uma memória, toda uma história que dá de se materializar. Quem vive nesta casa aqui? Quantas coisas já foram vistas nessa varanda? Será que alguém já morreu nesta rua?

Nunca, não andamos sobre pedras, ou sobre asfalto. Andamos sobre acontecimentos, pensamentos, sobre vontades, sobre músicas, sobre saudades. É que por causa dessa coisa de dia a dia, desse nosso vai e vem, que agente esquece de tanta coisa boa, como essas.

Não há de se pensar que a vida acaba, finita. Jamais! A vida continua, em cada pontinho, em cada momento em que você a deixa ir. Naquela esquina, quando viu aquela menina bonita subindo no onibus, foi-se um pouco de você, aquele pouquinho, que queria mesmo era encontrar um bom lugar para ver alguma menina passar. Aquele livro que você leu, entre aquelas páginas que agora estão fechadas, lá agora tem uma outra parte sua, que decidiu-se por fazer parte de uma história bonita, de suspense e de ação. É por isso que soltamos aquela sorriso tímido, de quando nos sentimos bem por essas ou outras ocasiões; Estamos aos pouco concluíndo o que era a nossa missão.

Assim, pode ir. Vá-se embora, porque já deixou tudo que havia de deixar por aqui, e todas aquelas vontades que antes formavam seu corpo, agora estão realizadas, e vivem, a parte, justamente como queriam viver.

Pode deixar, que estes prédios, essas varandas e todo esse cenário vai ter guardado, para sempre, um pouquinho de você.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

"Tava escrito na parede, antes da reforma..."

O olho fecha; Nem dá pra entender como a palpebra tão fininha, tão fraca, consegue arrastar essa escuridão pesada e brutal.

Pense na vida, não como uma história, ou um filme, mas como um milagre que nunca aconteceu antes; Você nunca aconteceu antes!

Estique as palmas das mãos, e sem encostar, ponha bem próximo dos seus olhos já fechados; Veja como esse espaço é só seu, e como há alguma energia engraçada saindo de suas mãos.

Pense no azul.

Azul será.

Escute o som que as tantas ondas que você já viu gravaram em seu ouvido; Será sempre uma parte do que viveu, terá sempre memórias por onde passava...

Apanhe essa flor lilás, que nasceu bem no meio de todo esse sonho. Essa flor não vai viver por muito tempo, elá só entrou na história para que você se lembre do seu jardim; Cultive-o, pois é para lá que irá quando cansar de por aqui andar.

Não tenha quadros.

Abra as janelas!

Não ouça música.

Converse com o silêncio!

Não vá pensar que a arte não é vida, mas também não se esqueça, que a vida é uma arte!

Tenha sempre uma bala no bolso, porque se a vida entortar em amargo, nada que um doce não melhore!

E de algumas risadas, sozinho mesmo, que é para tornar-se seu amigo íntimo.

domingo, 29 de julho de 2007

Em um trem que sai daqui de casa...

As luzes que a as horas da madrugada matavam eram justamente as luzes de que eu precisava. Muito devagar, tudo o que antes eram cores, tornarvam-se certezas de uma era confusa, que todos passam. Nada sobraria, então, dali a poucas horas. Tudo iria, embora, away...

A música que o momento pedia não era a mesma que eu tinha na cabeça, ironia das coincidências infelizes, se não for verdade que todas as coincidência e todas as ironias são infelizes. Hão de ser, sendo uma o riso de quem não ri e a outra a certeza da premeditação exagerada, da vida tão pacata que a morte é esperada, com data e hora marcada.

Você era fumaça. Assim se desfez com nós de um passado primoroso; brumoso. Que torne-se fumaça, que o vento leve, que a natureza absorva, que sim! Convenhamos em aceitar as leis químicas em nossas vidas, e reciclar os elementos, e transformar as materias, e trocar de estados, expandir-nos, além do que pudeste sonhar nas horas mortas em que dormia em casa.

Nestas paredes que pensaste ser proteção, estão teus sonhos, frustrados, odiando-te por teres feito deles nada mais que reboco, que concreto mal armado, tijolos vermelhos cor de um sangue que não é teu nem de ninguém. Formaste uma barreira com tuas dúvidas, isolaste tu mesmo de um reino que era teu por natureza, por direito fraternal. Deixou que um teto sujo de um futuro que não aconteceria encarasse as estrelas todas as noites, querendo ser o que nunca será, embora toda aquela história de destino. Imaginas seres recusado? Teus sonhos o foram, e assim é que se cultiva ódio, que se constroe todas estas barreiras que procuras entender, agora que a losna toma teu corpo em gosto amargo e solidão densa e pegajosa.

Jogue tuas cinzas por onde possas ver. Caminhas entre o bosque que antes fora teu alimento, que fora teu mundo... encaminhate rumo a algo que possa te digerir, que possa te desfazer, que possa colar este retalho que tu és em algum cenário terno e amável. Seja deglutido por este mundo giratório, aceite ser picado, para que com pequenas partes de teu corpo possas oferecer alimento a quem tens demasiado negado a chance de se alimentar; Teus sonhos de peregrino! De explorar o mundo, de conhecer todo o pano de fundo desta tragédia cômica. Mas que assassino tens me saído! Que corja humana!

Deixa para trás isso e aquilo, não carrega nada além de tu mesmo. Não tenha pressa.
Apenas fique sempre entre o trilho e o rio, porque a vida dá de entortar os caminhos, e ai talvez perca-te antes mesmo de poder te encontrar...

-------

"É transparente, a vontade sintética de amar, é transparente!"

domingo, 8 de julho de 2007

Um barco e o que ele representa...

Para onde seguia aquele barco, que eu vi tão rápido?



Corria por entre a solidão liquifeita em um mar que veio daquela chuva de agora pouco.



Segundos que flutei junto, rumo aonde tudo me levar, e que seja. Que seja a sorte neste navio sem vela, guiado pela vontade pura de criança pequena, e pela fé de que a chuva sempre vem para desfiar a secura desses tempos de hoje.



E tem seu lado bom, poder montar-se em aventura de uma embarcação sem nome nem destino. Mesmo que para isso é bom que não se tenha ninguém, porque não há porto de onde se possa balançar lenço qualquer. Se em noites de sereno se sente falta, em tédios de vida agente agradece por se ser só.


-----------


"Um barão, de olhos enxarcados,
de conselhos de ouro e voz de avô.
Um Velho sábio da vida, quieto e observador,
daqueles que gostam do café bem forte
que é para lembrar do gosto que a vida tem
daqueles que acordam bem cedo
para se viver enquanto há sol, e só."


-------------

"Esses finais de semana fazem-me crer que o mundo não acaba é por preguiça..."


-------------

'... tentar prever serviu para me enganar...'

(quatro, barbudos, em recesso)

quinta-feira, 5 de julho de 2007

A vida do Luís, sem o Luís...

E ele veio, feito apenas de alegria, com o anel que conseguiu comprar. Não era aquele anel, mas era um símbolo, e era isso que eles queriam.

Ela estava sentada, lendo.

Antes, ele para e olha, de longe. Tava sentindo a magia do momento, que era muito maior do que o maior dos prédios que ele já tinha visto.

A vida mudaria. Era o anel, e aí, quem sabe? Felicidade, provavelmente. O coração era que parecia carnaval. As pernas entravam na festa, e dançavam sem sair do lugar.

Agora, que tinha o anel, sentia a emoção, só faltava uma coisa;

Só faltava conhecer aquela mulher que o encantava, que vivia em sua vida sem saber. Era só isso.

Ela fecha o livro. Talvez tenha terminado mais um capítulo. Quanto tempo até Luís conseguir se aproximar dela? Mais vinte ou trinta páginas? Mais um livro inteiro? O problema é que sempre pode ser a última oportunidade, e aí? Acredite Luís, talvez ela nunca mais volte, e este anel será um troféu, guardado na gaveta, para que lembre que a sua vida pode muito bem acontecer sem você. Pode muito bem.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Seria triste...

Descobrindo, o que há atrás da chuva.

Eu pego um trem que vai daqui até a porta da sua casa, sem curvas.

Três toques na porta, como sempre, sempre.

Eu trouxe numa sacola um doce, uma flor e aquela praia deserta em que fomos uma vez.

Mas quem me atende, eu não conhecia.

Só aí lembrei, que você tinha mudado de endereço;

Decidiu ir aconselhar os pequenos anjos,

Injustiça, seus conselhos eram tudo o que eu precisava, para poder ir dormir agora.


------

Você sempre teve visão boa. Sempre via a montanha primeiro que eu. Mesmo quando eu que sentava no banco da frente. Agora, eu forço, forço os olhos, deixo eles bem pequeninhos, mas nem há mais montanha nenhuma. Você, você levou contigo?

------

Tem quatro chinelos. Dois deles talvez nunca mais sairão do lugar.

------

Todo o sentimento do mundo não cabe aqui em casa. Nem todo o meu sentimento cabe. Por isso, meus queridos, as janelas sempre abertas, por isso!

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Pois a pomba que veio...

Foi em um recado, que veio com uma pomba cor de mármore, por entre o meu sono, por dentro da minha janela. Foi em uma de suas patas, judiadas pelo asfalto quente, que vi um papel surrado, amarelo.

Recados de amor?

Pedido de socorro?

Não, um cenário:

O céu ia tomando a cor de nossas peles, e nós, a cor dos céus. Um cavalo vinha correndo, virava vento, virava flor, virava vida e depois virava cavalo. O chão de areia, que veio de muitas esmeraldas limadas pelo vento forte que vem do sul, cheirava a maçã do amor. O mar era quente, e dele saia uma luz violeta, rumo aos céus, e essa cor era a que preenchia as nuvens, já que nem havia mais sol.
Não se estava só. Havia algumas dezenas de pessoas no mar, uma mais ao fundo que outras. O Vento dava uma sensação de movimento, mas não dava frio. Ninguém falava nada; Procuravam entender o que estava acontecendo!


Lá do fundo, no fundo do mar, uma árvore começa a crescer bem rapidamente. Flores aparecem em seus galhos pontudos, flores que poderiam sorrir, se fossem muito mais que flores. Mas eram apenas um pouco mais que flores.


Não se sabe onde tudo isso aconteceu. Pode ter sido bem perto.

Não se sabe de quem era aquela pomba, pode não ser de ninguém.

O fato é que já passava das três, e meus olhos pesavam por demais.

domingo, 24 de junho de 2007

Cuidado, que chove lá fora!

Uma primeira gota pula,
Queria provar para as outras
Que é possível furar o chão
E ir tão longe que nem se quer
uma gota poderia imaginar
Há tanta vida nesta queda solitária!
Que outras gotas apaixonam-se
E começam a pular
Dez, vinte, agora talvez cem
Dentro em pouco, passam de números
Tornam-se todas uma só,
Tornam-se chuva,
Chegam ao solo com toda vontade
De provar para alguma outra gota ainda sem coragem
Que dá para ultrapassar qualquer barreira
Mesmo uma gota, uma pequena gota
Pode furar o solo, pode penetrar na terra
Pode ultrapassar sonhos, pode sim!
O espetáculo que havia começado morno
Agora explode em movimento e cores
Quem das janelas assiste, abismado
Mal consegue entender como aquelas gotas
podiam tanto! E como elas provocavam em nós
Uma vontade de dizer um monte de coisas,
Uma vontade de fazer um monte de coisas
Qual era o poder daquelas gotas?
Qual era a sua magia?
Alguns casais abraçados, alguns solitários com a cabeça colada no vidro
Sentiam-se convidados a participar,
Poderiam mandar recados às gotas que ainda estavam por pular
E pedir que com ela levassem coisas que queriam fazer
Mas que por algum motivo não fizeram
Uma primeira pessoa mandou para uma gota
Um “te amo” que nunca disse, para que explodisse
Junto com a gota quando o chão se fizesse duro demais.
Muitos outros recados foram enviados
E as gotas, todas elas, pulavam abraçando
Um monte de vontades que nunca foram satisfeitas
As gotas que choviam lá fora já estavam, na verdade
Lavando aqui dentro, as pessoas ficando mais leves
Um sorriso aparecendo em lábios há muito aflitos
Mas a mensagem que a chuva passava não era pra não fazermos o que temos que fazer
Mas que deixemos explodir o que já passou, e que já deveria ter sido feito
Para que façamos o que virá, o que irá querer ser completo,
Para não nos prendermos em erros que já se foram
Deixem eles explodirem no chão,
Porque dá para ultrapassar qualquer barreira
Mesmo uma gota, uma pequena gota
Pode sim!

-----

Realizar sonhos? Ah, não seja piegas! Quero é ultrapassa-los!

----

"Mãe não tem limite,
é tempo sem hora..."
(Funcionário Público, fazendeiro do ar, um gauche)

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Apocalipse de todos os dias normais...

Rasgam os céus. Vagarosamente deixam de ser o que deveriam ser. Transformam-se. Mutam. Como todo mundo, todos. As pequenas crianças se preocupam, os velhos nem se quer vêem, as mulheres gritam sem nenhum desespero na voz. A pequena pedra feliz por estar no sol. As formigas por demais entretidas em seus trabalhos cotidianos. Os muito cheiros da terra, nenhum que eu conheça. Rasgam os céus e deixam aquela marca, para que os que não viram acontecer possam saber que realmente aconteceu. Três, quatro, talvez sete, como dizia um texto antigo. Rasgam os céus e por um instante apagam todas as luzes, o sol se torna transparente, todas as saias, as camisas, as cabeças e os pensamentos, tudo se torna translúcido como deveria ser. Mas as coisas deixam de ser o que deveriam , e saem por aí, rasgando os céus.

Daqui da sacada não se vê muito longe, mas é quase sempre o suficiente. Daqui eu posso ver tantas coisas, e as vezes nenhuma das que estava procurando. A sacada muda. A sacada muda o mundo, todos os dias.

Quero sair, usando uma boina. Que histórias posso ouvir por agora? O mundo sabe como guiar. Costumava saber, ao menos. Os olhos que vêem cinza por onde passeiam as cores. Queria esconder um bilhete, embaixo de uma pedra, à sombra de uma saudade qualquer. Mas não há tempo, o relógio bate cinco e três quartos, e já é hora de sentar com meus poetas.

O que queres da vida, Luís Alfredo? Queres o que? Deixar teu nome em alguma árvore, tomar banho em alguma cachoeira, ganhar sempre? O que queres que a vida faça com teus planos, Luís? Queres realmente ser o dono de teu destino? Queres ser o único culpado por tudo? Temo que não! Então porque continua a não acreditar? Porque não aceitar alguns fatos, já que a alma sente um certo frio?

----------------------------

"Pois a linguagem planta suas árvores no homem e quer vê-las cobertas de folhas, de signos, de obscuros sentimentos, e avenidas desertas..."

(Mineiro, itabirano, alma de ferro!)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Ensinamentos que boiavam em uma garrafa...

Um pouco de repente, deu-me vontade de ver o mar, ou qualquer outra coisa que junto com a sua imensidão trouxesse aquela paz, aquele sentimento de que por sermos tão pequenos, nenhuma dor é para sempre, nenhuma pode ser para sempre.
A espuma, ou o destino, trouxe uma garrafa, que veio descançar de uma viagem que possívelmente tenha sido deveras longa entre os meus pés. Claro, como em qualquer história que se preze, havia um recado dentro dela, mas como em nenhuma história que vocês já tenham lido, o que lá estava escrito não era nada casual.
É importante que tenham em mente o cenário, porque ele é parte agora do sentimento que se têm; O sol quase se pondo, em um mar quase calmo. Algumas nuvens no céu roubavam a cor alaranjada, se preenchendo, como um algodão doce. Por fora, deserto de qualquer vida. Nem o vento se dignou a aparecer. Era melhor assim.
O modo como a carta começou já revela que aquilo era uma despedida, uma despedida de alguém que sentia ter muito a falar e, principalmente, aconselhar. Tenho a impressão que tenha sido escrita por um pai a um filho, mas tirem suas própria conclusões:

"Pequeno,
Estou velho, estou indo embora. Em minha vida sempre fiz o que tinha que ser feito, e dessa vez não será diferente; A minha hora chegou, e vou cumprir com a minha parte. Mas não antes de fazer uma coisa que também é minha obrigação; lhe deixar as coisas que aprendi com a minha história, para que você possa poupar alguns tombos, se quiser.

Apredi que todos erramos, todos. Mas o único erro que pode causar algum mal de verdade é não entender e aceitar os erros dos outro. Você sabe que nunca fui religioso, mas certo dia, quando ainda pequeno, perguntei para o pastor da igreja de minha mãe porque Deus era Deus, e ele me disse que Ele assim o era porque era supremo na arte de perdoar, e não porque era supremo na arte de não errar. Talvez não possamos perdoar como Ele perdoa, mas tentar chegar a isso é um bom caminho de se viver.

Aprendi que não podemos ter pessoas. Nada nesse mundo, além de nossas consicências, nos pertence, e lembrar disso todas as manhãs lhe ajudará a entender se naquele dia alguém lhe for tirado de sua vida. Jamais tente engaiolar alguém para você, ninguém aqui é um passáro ornamental, somos todos pedaços do vento.

Aprendi a perder. É custoso entender que a derrota é muito melhor que a vitória, pois assim se cresce muito mais. Claro que todos nós precisamos de nossos dias de glória, e eles virão, tenha certeza, mas tenha a sabedoria de lidar com as dificuldades que a vida nos tráz como sendo pequenos cursos com o objetivo de formar pessoas que saibam viver. Talvez você já tenha entendido que viver não é respirar, não é andar, nem pensar. Viver é mais que isso, a vida, então, é muito rara.

Não aprendi a amar. E isso, acho que nem você aprenderá; Ninguém aprende. Ama-se diferente a cada dia, o sentimento muda com as pessoas, as vezes ele se esconde, as vezes aparece demais, as vezes é gostoso e as vezes machuca muito mais. Nunca entenderemos o que é o Amor, e devemos dar graças a Deus que a maldita maça do jardim não abriu os nossos olhos para isso; Se soubessemos o que é amar perderíamos a última gota que ainda nos resta de magia.

Aprendi a ter calma, ser paciente. Algumas vezes a vida nos cobra velocidade, rapidez, e aí talvez tenhamos que responder a altura; Cada um tem o seu ritmo, e deve-se respeitar isso.

Aprendi que podemos aprender sobre tudo, tudo o que quisermos. Isso só depende de nós.

Pequeno, quero que tome os seus próprios tombos, e que aprenda com seus machucados, mas quero que possa aproveitar alguma coisa de minha humilde vida. Algumas dessas coisas que acabei de falar são experiências de meu pai, as quais ele me contou quando decidi sair de casa. Ele teve essa sorte, eu não, e portanto deixo tudo aqui escrito, na esperança que algum dia possa ler...

Prisão de Alcatraz, 03 de julho de (não se pode ler o resto da data)"

Muita informação. O mundo gira, eu não mais. Do sol se vê apenas uma pontinha, uma pequena parte que ficou para testemunhar o fim do dia. Eu olho o horizonte, da vontade de alcança-lo, é uma dádiva não conseguir. Gostaria de ter muito mais tempo, de ter muitas vidas, para que pudesse aprender tudo o que aquele pai aprendeu. Gostaria de deixar de ficar magoado, de ficar encucado, gostaria de ser calmo, porque a calma, e apenas ela, foi quem trouxe aquela garrafa por todo o oceano até mim.

sábado, 16 de junho de 2007

Agora, notícias de alguém desconhecido, em versos dispersos...

É daquele que sabe deixar o dia para tras, é sobre aquele que aceita de bom grado o que a noite traz. Agora vamos falar sobre um homem que não é muito nada demais, mas que por ser assim, supera em nobreza a todos, e é em sí o que os outros são apenas em sonhos.


Um pescador que cansado de tentar a vida sempre no mesmo azul, decide pescar estrelas, e escrito em uma delas acha três segredos: Nem todo carnaval tem seu fim, Nem todo amor é um carnaval, Nem todo carnaval é para mim. Esse pescador, graças às estrelas, nunca mais será apenas um pescador.


Uma criança que tudo que queria era viver dando risada. Depois de levar alguns sustos na vida, desistiu, porque rir não serve de nada; Fazer rir é abrir estrada. Foi assim que nasceu o palhaço pirata.


Aqueles dias em que acordamos com uma vontade danada de dizer bom dia a qualquer um, de bater na porta do vizinho para oferecer uma carona. É nesses dias que nascem as crianças mais especiais; São os sinais, como a estrela que guia a mirra o ouro e o incenso.


A menina que me diverte, que me ouve, e que tem uma amiga com sardas e com quem tem histórias engraçadas. Desejo a todos que cruzem por aí com pessoas como essas, porque não há razão para viver se não for pra aprender, que quem sabe levar a vida, não precisa fantasiar amores, algumas amizades nos bastam para nos fazer sentir atores dessa peça que não há de acabar.


-----------------------------------------------------------------------

A rima cansa, eu sei. Não vou repetir.

------------------------------------------------------------------------

A chuva é boa, porque sempre que chove lá fora, é aqui dentro que eu sinto que a agua lava.

------------------------------------------------------------------------

"de você sei quase nada
pra onde vai ou de onde veio
nem mesmo sei
qual é a parte
da tua estrada
no meu caminho"
(Zé, que veio lá de São Luís)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

E a loucura tem a sua vez...

E todo esse ácido percorre o meu corpo. Não me corroí, não me faz mal. Percorre como quem passeia na vida de quem se ama. Uma por uma, cada célula de meu corpo tem contato com a imensidão de sonhos que eu gostaria de ter realizado. Nada em mim. Tudo através.

Se chove lá fora eu nem posso ouvir mais. Talvez nem haja mais "lá fora". Expande-se. Eterniza-se. Em busca de um nada perdido.

Algumas notas tocadas alcançam o que poderia ser o meu ouvido. Por enquanto, está tudo bem ácido ainda. Cores que se contrastam dançam um balé sem graça, uma dança de quem quer fazer os outros se sentirem tontos.

Estado de espírito. Espírito espalhado. Cacos. Muitos deles, por toda a sala, por toda a varanda, por toda a vida. Mas talez eu não me importe, porque ainda é segunda feira, e temos a semana toda. (Ou a semana nos tem?)

Mais ácido. Mais. Porque a vida é do jeito que eu quiser que seja.

Uma praia de água prata, sem nenhum astro nos céus. O reflexo que se tem é o reflexo de um infinito que nunca aconteceria. Três flores, uma azul, uma amarela e uma ardente em chamas rasgam o solo arenoso, e dançam sob o vento que traz notícias de um deserto não muito distante. A música que se ouve é exatamente igual àquelas que mulheres praticam a dança do ventre. Eu caminho. Caminho. A imagem começa a apagar-se.


Mais ácido. Mais. Porque a paisagem será como eu quiser ver.

Um cheiro de realidade me inunda.
Cá estou eu novamente, dentro deste mundo que se limita a ser limitado.
Que seja;
Hoje ainda é segunda feira.

-----------------------------------------------------------

Ouço as vozes dos tantos personagens que já larguei no eterno anonimato de nunca ser escrito.
Que falem, não sou eu o louco que botará travessões. Deixem falar.

-----------------------------------------------------------

"O mundo dos sonhos é tão silencioso quanto o mundo submarino. Por isso é que faz bem sonhar" (Mazinho, querido, antigo, nunca-esquecido)

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Aforismos para nenhuma vida

Se houvessem mais diamantes, eles não teriam valor. Se hovessem muitas pessoas em quem confiar, também.



Todo mundo sabe que viver é a parte mais fácil de estar vivo. Mas poucos ousam ser simples.



Falar é justamente o contrário; Pensa-se em falar o que quiser, mas não há nada mais doloroso do que errar com palavras.



Tudo na vida custa alguma coisa; Assistir o sol nascer da varanda a companhia de ótimas memórias é das poucas coisas que todos nascem podendo fazer. E talvez, seja uma das coisas mais precisosas.


A merda da sociedade não é o capitalismo, não é competição; A tudo isso o ser humano pode se adaptar. A merda é não podermos mais nos expressar, por que as pessoas que aparecem nas novelas não falam nem sentem do mesmo jeito que alguns outros. Acredite, ficar sem se expressar é a pior de todas as ditaduras.


Todos assistem a filmes. Alguns se emocionam, gostariam de ter sido personagens daquelas histórias. Ninguém faz o mais simples; Copiar ideias. Faça o favor, meu deus!

domingo, 10 de junho de 2007

Acontece

Acontece que essas coisas sempre têm que acontecer. É coisa da vida, coisa de quem vê que perde o controle e não quer que as coisas fiquem assim. Tranco. Barranco. Sucata. Acontece.


É na vida quase pacata. De domingo final de tarde com aquele solzinho que nem esquenta mas espanta o frio. De pão de queijo com requeijão, quentinho. De telefone que não toca nem sendo hipnotizado. De álbum de fotos. De um tempo sozinho. De rua tranqüila, no bairro onde você mora.


É nessas horas que acontece. Não é culpa minha, não é culpa sua. Acontece por que tinha que acontecer, e assim é que a vida caminha. Dizer que as coisas poderiam ser de alguma outra forma não vai me livrar de viver, e agora, daqui por diante, eu quero a vida de cara limpa todas as manhãs; Bem vou ser tudo o que quis ser na noite passada, e te direi todas aquelas coisas bonitas que treinei no espelho. Se for pra ser, será, se não for, eu saberei esperar, mesmo que todas aquelas estrelas chovam numa noite fria, mesmo que o sol decida por outra galáxia, mesmo que eu e você nos esqueçamos. Esqueceremos.

Não é por romantismo. Não é por sentimental, por confetes, por graça. Não é querer ser personagem de Shakespeare. É só certeza. As certezas têm a sua vez aqui pra mim, e se cá tenho elas, cá cuidarei. Sim, são só certezas, e se isso tiras as cores para você, se te decepciono sendo racional quando se espera um coração que fale, não chore demais.


Aconteceu de acontecer comigo, e essas coisas acontecem mesmo. Não vou brincar de ser vítima, não vou comprar uma briga contra a vida; Ninguém é um desgraçado simplesmente por que aconteceu. E acontecerá mais algumas vezes ainda no meu e no seu destino. Tudo sempre vira sucata, pelo menos uma vez na história, e sempre que isso acontecer eu vou recitar pra mim mesmo:

"Quanto mais próximo de ser sucata, mais próximo de ser alguma coisa a mais...”

(Era como dizia, mais ou menos, um poeta que eu gostaria de ter conhecido.)

Tranco.

Barranco.

Acontece.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

olhos e janelas bem abertos...

Encha os pulmões, de uma forma que lhe faça sentir como se fosse uma criança pequena.


Agora prenda. Aguente, são só por alguns segundos. Segundos que vão fazer você viver uma infância inteira toda manhã, toda manhã que quiser se sentir assim.

Agora deixe o ar ir. Comece por cima dos seus pulmões. Devagar, não pode haver pressa em simplesmente respirar.

Respirar.

Respirar.

Você ainda se lembra do que isso significa? Um pouco do oceano, um pouco das algas, um pouco de Elvis Presley, um pouco das crianças da africa, um pouco da disney, um pouco dessas coisas inundam a parte de dentro do seu corpo. Preenchem. Fill it. Células percorrem o corpo inteiro apenas para pegar o oxigenio que veio com tudo aquilo descrito linhas acima.


Pense em alguém. Essa parte é muito importante; Nossas vidas são feitas de pessoas, não de sonhos, não de planos, não de empregos... Pessoas. Pessoas que nos fazem felizes, que viajam, que mentem, que choram, que contam piadas de péssimo gosto, que se esquecem, que nos dão presentes, que fazem aniversários, que nos telefonam, que não nos atendem... Pessoas bonitas por causa do rosto, por causa do corpo ou só por causa de como mexem com a mão. Escolha alguém, escolha um lugar, escolha um céu e imagine! Let it fly!


Respire.

Lembre.

Imagine.

E viver não é muito mais que isso.

Isso não é nada,

Isso é apenas um sorvete de casquinha,

Isso são apenas cinco minutos...

Há de se pensar na vida, vez ou outra,
Há de se sentir a vida, vez ou outra,
até as tristezas (enjoy it, embrace it, discart it)!
Agora, seremos assim, pelo resto de nossas vidas...
Agora, viveremos para sempre, olhos e janelas bem abertas!
Agora.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Espelho de manhã e conselhos...

É, eu sei que vocês não vão acreditar. Mas eu tenho que dizer isso pra alguém, e aqui vai;

Hoje, logo de manhã (tão cedo quanto a minha vida noturna permite acordar), alguém tomou o lugar que era pra ser meu no espelho. Foi uma coisa espantosa, mas ao mesmo tempo, interessantissíma! Eu que moro bem cá sozinho, que peço pouco à vida, que gosto de olhar a janela quando já está quase todo mundo dormindo, eu que sou essas coisas todas, vi alguém que era nada! Uma imagem de sonhos que ninguém quis realizar, um rosto que não era triste porque até a tristeza passa, e ele ficou... Ficou ali, no meu espelho, olhando-me como se eu estivesse em algum lugar que não deveria!

Quem me conhece sabe que não sou muito do tipo de fazer amizades. Mas aquele presença, se não fosse ao menos amigável, que seria mais? Perturbadora! Arranquei-me algumas palavras;

- Dia frio né?!

Olho que bate com olho e sai faísca. Tic, Tac, e lembro que num tenho relógio no apartamento; O barulho deve vir do outro lado. Se não quer falar, tudo bem; Abaixo a cabeça para lavar o rosto e...

- Agora sim, um rei sempre se sente mais a vontade com um gesto desse. Realmente, embora o sol esteja por aí, o dia está frio!

É, sei o que vocês estão pensando, eu também pensei isso na hora. Um rei! Que gesto? Lavar o rosto? Convenhamos, ele num estava achando que eu abaixava a cabeça em sinal de respeito a ele não é?! Uma imagem que nem se quer tinha alguem para parecer com!!! Risível!

- Mas não estou para papo furado. Vim lhe dizer que já está perdendo a simplicidade. Quando vim dar um passeio por aqui, acabei lhe vendo. Ja era quase de madrugada, e alguma coisa me dizia que talvez estivesse quase triste. Como cá no reino das imagens tudo é muito mais simples, é minha função tentar lhe trazer um pouco de nossa especialidade. Lembre-se de ver os olhos de seus amigos; É fácil achar a felicidade simples lá. Lembre-se de olhar pra lua pelo menos uma vez por noite. Tome cafés, que nos fazem sentir melhor a tarde, e tome chás, que traz um sussego de gente velha. Sinta o frio, e lembre-se como o calor é bom, mas nunca pare de viver o frio. Cuide de todos, porque isso faz de você simplesmente parte da vida. Não se zangue, não fique bravo, porque você sabe tanto quanto eu que logo logo não será mais nada, pra que gastar energia com isso então? Ouça música, todos os tipos de múscias! Escreva bobagens que nunca vai entregar a ninguém. Revele-se, declare-se. Tente olhar toda noite pra mesma estrela, procure-a por todo o céu, e sorria quando achar! Quando já tiver todas as técnicas para sempre acha-la, saiba que agora aquela estrela é sua! Viagens, muitas delas, para que fabrique memórias que lhe ajudarão quando os tempos estiverem difíceis. Acredite, é simples ser feliz. Simples...

É claro que a essa altura eu já me perguntava se estava realmente acordado. Mas isso, isso nem tinha mais importância. As coisas são muito mais simples, e eu estava me esquecendo disso!!!


--------


"Agente deve atravessar a vida como quem está gazeando a escola,
e não como quem vai para a escola"
Gaúcho, Velinho, Quintana.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Era um barco...

Era um barco. Agora é pássaro, e niguém pode prever o que será daqui a pouco; Esses segundos que passam são mágicos, mas não espalhe por ai. É o bolo que cresce, sozinho e colorido, a temperaturas carnavalescas, é a criança que chora baixinho, com muita sinceridade em cada lágrima, é o sol indo dormir e mesmo assim radiante. É quase tudo que sempre fica pra trás.
Agora é pássaro. Mas um dia foi barco, e ninguém mais se lembra do que fora antes disso. É a vida de alguém especial em seu anonimato e naturalidade. É a amizade que vira amor, e depois volta a ser amizade, todo fim de tarde.
Agente aperta bem os olhos, parece até japonês, para ver o barquinho se perder em seu caminho, e naquele momento agente sente que tudo na vida é maior, descobrimos todas as respostas, e esquecemos; Que graça há? O olho prende o barco mais alguns instantes, parece que num quer largar, mas larga, devagar cede, e passa um último carinho-golpe-de-vista; Acredite sim senhor, que quem ama a distância aprende a acariciar só usando os olhos.
Quando esse sentimento vem, da vontade de virar azul e dormir até agosto, da vontade de comer doce e de assistir filme. Da vontade de ficar sozinho, mas que pelo menos sempre tenha alguém ao alcance. Da vontade de num ter mais vontade nenhuma.


Agora já nem é mais pássaro, muito menos barco.
Agora talvez nunca tenha sido nada.


-----------------

"Será que é verdade? Será que toda vez que pisco Deus passa correndo, fazendo caretas e dando cambalhotas?"