sexta-feira, 22 de junho de 2007

Apocalipse de todos os dias normais...

Rasgam os céus. Vagarosamente deixam de ser o que deveriam ser. Transformam-se. Mutam. Como todo mundo, todos. As pequenas crianças se preocupam, os velhos nem se quer vêem, as mulheres gritam sem nenhum desespero na voz. A pequena pedra feliz por estar no sol. As formigas por demais entretidas em seus trabalhos cotidianos. Os muito cheiros da terra, nenhum que eu conheça. Rasgam os céus e deixam aquela marca, para que os que não viram acontecer possam saber que realmente aconteceu. Três, quatro, talvez sete, como dizia um texto antigo. Rasgam os céus e por um instante apagam todas as luzes, o sol se torna transparente, todas as saias, as camisas, as cabeças e os pensamentos, tudo se torna translúcido como deveria ser. Mas as coisas deixam de ser o que deveriam , e saem por aí, rasgando os céus.

Daqui da sacada não se vê muito longe, mas é quase sempre o suficiente. Daqui eu posso ver tantas coisas, e as vezes nenhuma das que estava procurando. A sacada muda. A sacada muda o mundo, todos os dias.

Quero sair, usando uma boina. Que histórias posso ouvir por agora? O mundo sabe como guiar. Costumava saber, ao menos. Os olhos que vêem cinza por onde passeiam as cores. Queria esconder um bilhete, embaixo de uma pedra, à sombra de uma saudade qualquer. Mas não há tempo, o relógio bate cinco e três quartos, e já é hora de sentar com meus poetas.

O que queres da vida, Luís Alfredo? Queres o que? Deixar teu nome em alguma árvore, tomar banho em alguma cachoeira, ganhar sempre? O que queres que a vida faça com teus planos, Luís? Queres realmente ser o dono de teu destino? Queres ser o único culpado por tudo? Temo que não! Então porque continua a não acreditar? Porque não aceitar alguns fatos, já que a alma sente um certo frio?

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"Pois a linguagem planta suas árvores no homem e quer vê-las cobertas de folhas, de signos, de obscuros sentimentos, e avenidas desertas..."

(Mineiro, itabirano, alma de ferro!)

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu quero que vc escreva um livro e que seu primeiro autógrafo seja meu!

Sem mais, Andressa =*

Anônimo disse...

"Porque não aceitar alguns fatos, já que a alma sente um certo frio?"

qual o frio que sua alma sente??