domingo, 16 de setembro de 2007

Enquanto humanidade...

Talvez tenhamos entendido errado. As explicações que nos deram, em forma de palavra sagrada, em forma de conselho de pai pra filho, em forma de amor. Talvez todos nós tenhamos entendido errado, e por isso estamos assim.

Por algum motivo, histórico, psicológico ou apenas casual, a humanidade hoje é sem representantes. Isso não se deu em um grande espetáculo, não foi reportado em noticiários importantes, não foi motivo de choque. A proposta é saber; Por quê?

Por que é que deixamos de ver no rapaz do metro, cabisbaixo, nós mesmos? Por que é que deixamos de ver na moça toda arrumada, nós mesmos? Por que não enxergamos mais o reflexo que há, o espelho que é? Na violência cometida pelo que passa fome, ou por aquele motivado por um ódio temporário, que vem de sua contemplação perante a nossa fraqueza de vida, na criança que chora por um chocolate e na mãe envergonhada, sem saber o que fazer para que aquela criança entenda; Não temos mais dinheiro! Nas viagens que os ricos fazem, na alienação de algum deles, na vontade de se esconder. No receio dos políticos corruptos, que não passam de seres humanos aterrorizados, enfraquecidos pela falta de sonhos... Ou nas grandes obras de artes, nas realizações maravilhosas, nos progressos científicos! A humanidade é uma só, e assim, eu sou tudo isso, e tudo isso me é!

É claro que se erra, é claro que corremos, é claro que sim. Mas também é certo que somos das criações a mais linda, que dentro de nós, como que caldeira, todos os sentimentos do mundo nascem e morrem milhares de vezes por segundo, que somos capazes de ir ao topo do mundo, à lua, ao centro do universo enquanto somos também capazes de ver morrer de fome uma criança, ver se desfragmentar uma família, ver a violência tomar conta de alguma cidade. Somos humanos! E isso já deveria explica tudo!

Não há culpa, não há verdade. Há a certeza que deixamos de nos identificar e por isso algumas coisas ruins acontecem; Se não sentimos os desastres, desastres não existem, se não somos atacados, ataques não acontecem, se não ganhamos dinheiro, a coisa realmente vai mal no mundo inteiro.

Deixemos de ser um, deixemos a unidade para fazer parte de algo maior; A totalidade! Atenção; Não estou falando para renunciarmos às nossas personalidades, não! Estou falando para unir todas elas, fazer um grande apanhado, reunir as peças que montam a humanidade, construir, como em um quebra-cabeça, onde as peças são justamente o moço do metro, a mulher bem arrumada, os atos de violência e tudo o mais, e a foto que vai se formar, aquela que sempre fica na capa do jogo, é a mais linda possível; A razão da humanidade, simples, soberana e bonita.

É inevitável cair em sentimentalismos, talvez pieguices;
Eu amo a mim mesmo, por sentir em mim um pedacinho da humanidade, e amo a humanidade, por ver que é de lá que todos os meus sentimentos vêm.

Mas porque? Porque é que deixamos de ver assim, de ser assim, de sentir assim? Porque é que não conseguimos entender os conselhos, as palavras, o amor?

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Os sentimentos deste texto foram expectorados pelo espetáculo "Canção de mim mesmo", do Grupo Ateliê, em cartaz no Sesc Av. Paulista, até 23 de setembro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Alan, meu amigo, você conseguiu traduzir(-se)como poucos.
Que coisa gratificante, como ator, receber esta resposta. Muito obrigado.
Parabéns pelo texto e pelo blog - já está nos meus favoritos.
Estarei sempre por aqui.
Abração.

lucas lyra disse...

E como começo de caminho
quero a unimultiplicidade.
Onde cada homem é sozinho
a casa da humanidade.